Dois corações abraçam-se num pôr de sol clandestino.
Apertam seus corpos como quem não quer partir. Entrelaçam as mãos e encostam as cabeças de um modo tão ternurento que o sol parece ter permanecido no mesmo lugar só para ver o que acontecia.
O vento soprava leve e a sua leveza trazia consigo lágrimas. Eram proferidas palavras em tons de promessa e um pedido de " não me deixes ir". Mas foi. Sem forças, sem objectivos, sem nada. Foi desorientado e só por ir. Para trás deixara o amor que lhe arrebatara o coração do peito. Não voltaria a ser o mesmo coração.
Havia lágrimas de quem partia e de quem via partir. Doía mais que a morte porventura eminente.
Escurecia e ao longe mal se via o coração dilacerado e sem rumo. Não tinha mais razão para seguir enquanto seguia, e seguindo transpirava desalento.
Ainda a observar tudo aquilo que em silêncio se ouvia e sentia, quem ficava a ver partir tinha o filme de tudo em frente dos olhos. Do vivido, do bom, das provações. Chorava, chorava muito e não sabia que fazer nem como reagir á dor de ver partir o amor por quem daria a vida.
Espreitava e ao longe ainda via.
Sentia aquele frio na barriga, aquele frio característico de quem cai por terra e tenta ser forte na fraqueza.
Olhou novamente para trás e já não via.
Fechou os olhos, limpou as lágrimas e a voz trémula do choro. E correu. Correu sem parar até chegar ao amor por quem vivera. Parou e em silêncio, uniram as mãos, abraçaram-se forte e seguiram caminho.
Agora, aqueles corações estavam entregues um ao outro, limpado as lágrimas.
Puseram um sorriso no rosto e juntos seguiram unidos.
Apesar da noite avançada, pelo caminho ouviam-se promessas e brincadeiras cúmplices e no escuro a iluminar aqueles corações, agora felizes, estava o amor que os fazia permanecer vivos. Vivos um para o outro.
E os dois para a vida.